Os leigos e sua missão na Igreja

O Concílio Vaticano II apresentou a Igreja como Povo de Deus em sua maior concepção, abrindo espaço para a reinserção do leigo no corpo-Igreja.  A partir dessa tomada de posição o leigo passou a participar efetivamente de toda obra e missão da Igreja. O estreitamento de relações entre o clero e o leigo, a partir do Concílio, ofereceu a possibilidade de uma nova proposta eclesial, em relação às vocações ou às missões a partir do compromisso claramente apresentado ao leigo e à leiga batizados.  Assim, sob o impulso do Concílio, o leigo tornou-se, também, um agente evangelizador com a tarefa basilar de edificar a Igreja a partir do anúncio e testemunho do Evangelho salvífico de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O documento de Medellín corrobora com o Concílio Vaticano II no momento em que declara a missão dos leigos dentro da Igreja a partir dos efeitos do Batismo e do Crisma. Assim como Jesus, o cristão leigo volta a ter um posicionamento político mais consciente, responsável, profético, denunciando as injustiças e trabalhando para a promoção e libertação dos latino-americanos. Medelín aponta, não só o leigo, mas, também, o compromisso do clero com esse movimento de libertação social. Essa percepção de Medellín é, em parte, asseverada pelo documento de Puebla, anos depois. É importante ressaltar que, a partir de Medellín, as classes populares mais carentes passam a ser os grandes sujeitos da evangelização, o que faz dessa ação uma prática libertadora e uma preocupação ímpar da reflexão teológica. Dessa forma, as comunidades eclesiais de base tornam-se a maior expressão da Igreja, sendo, inclusive, utilizadas como modelo de estruturação para uma sociedade mais justa e igualitária.
Os leigos, a partir desse dado histórico, passam a assumir um papel singular na Igreja, pois são chamados a construírem uma comunidade de fé e oração, cujo objetivo maior deva ser a promoção da caridade e da paz.  O veículo utilizado para a formação desse novo corpo-Igreja é a catequese. Assim, o leigo é chamado a participar evidentemente das pastorais; os leigos passam a ser a nova face da Igreja.
Em Santo Domingo, a vocação laical aumentou sua dimensão, porém, com um destino bem diferente. Os assuntos abordados giravam em torno do mundo moderno, do secularismo e de ateísmos. Os bispos presentes ao evento dão-se conta dos emergentes desafios apresentados pelo mundo moderno. Por esse motivo, frente a essa realidade, surgiu a necessidade de uma nova evangelização no continente.  Nesse momento, surgem no leigo uma grande expectativa e esperança. Em Santo Domingo, ainda que se reconheça no leigo o papel profético de anunciar a injustiça e a desigualdade, este é levado a ter um trabalho mais voltado para a nova evangelização. Sendo assim, sua preocupação maior é a espiritual.
Aproximadamente onze anos depois de Medellín, a conferência de Puebla retoma e amplia as escolhas de Medellín, não só reafirmando a opção pelos pobres, mas também pelos jovens.  Puebla apresenta, também, uma nova forma de evangelizar e perceber os caminhos da Igreja, e fez isso por meio de um grande princípio, a Comunhão e a Participação, anunciando a verdade sobre Jesus Cristo, a verdade sobre a Igreja e a verdade sobre o ser humano. Assim, a partir dessas três grandes verdades, ou seja, o Salvador, o Povo de Deus e o sinal e serviço à comunhão, nasce uma nova etapa de transição, sobretudo, na área social.
A missão da Igreja, a partir desse dado momento, é evangelizar o povo para a liberdade, anunciando o mistério pascal de Cristo cujo objetivo central é a promoção da vida humana, vida em abundância, a partir da reconstrução de uma sociedade mais justa e igualitária. Assim, Puebla aponta como responsável por essa transformação toda a comunidade cristã.
Conclui-se que, no atual contexto eclesial, os leigos, para tornar viva e operante a missão da Igreja, devem estabelecer-se como comunidade una, íntegra e integradora junto ao clero, composta por uma diversidade de ministérios e carismas. Os leigos precisam assumir a sua tríplice função eclesial, de rei, sacerdote e profeta de Cristo, crescendo em seu ministério eclesial a fim de atender às necessidades da comunidade e da Evangelização.
É ímpar a necessidade dos leigos em acreditar no seu protagonismo dentro da comunidade, assumindo, assim, o seu papel de agente de transformação e construção do Reino de Deus; Santo Domingo já insistia nessa nova postura do leigo. A PUC-RJ com o seu projeto de Iniciação Teológica junto à comunidade faz valer esse processo de Nova Evangelização ao capacitar teologicamente os leigos, recuperando a sua consciência missionária como agentes da transformação, não só da sociedade, mas, principalmente, da Igreja.


Por Daniel G. Ribeiro

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