O "Povo
de Deus”, "Corpo de Cristo", “Templo do Espírito” e a Renovação
eclesial
Podemos facilmente observar com a leitura do Antigo Testamento que o
Povo de Israel se compreende como o escolhido por Deus. Porém, a expressão “Povo de Deus” não é
comumente utilizada pelos autores bíblicos. Destarte, existem algumas formas
bem assemelhadas com o termo acima citado, tais como “meu povo” ou “nós somos
um povo”, mostrando a sua pertença com Deus. A grande diferença existente entre
os livros do AT e as Cartas Paulinas é que um quer dar a ideia de eleição (AT)
e no outro, a ideia de vocação, independente da etnia ou cultura.
Contudo não podemos deixar de perceber que tudo que aconteceu no AT foi
uma grande preparação para a “nova e eterna aliança” que se estabeleceria em
Jesus, aquele que não foi apenas o autor, mas consumador da fé (Cf. Hb 12), o
próprio verbo encarnado (Cf. Jo 1). Paulo em sua
primeira carta aos Coríntios (Cf. 1Cor 11) apresenta os discípulos como o
verdadeiro Israel, o novo Povo de Deus. Porém, não reduz esse povo a uma etnia,
a um clã ou família, Jesus estende essa filiação, essa irmandade, a todos
aqueles que, movidos pelo mesmo Espírito e sentimento, estivessem unidos em um
bem comum, ou seja, ao anúncio da Boa Nova (Cf. Rm 2, 28 ; 3, 29 ; 10, 12)
Dessa forma, participar da nova aliança, instituída por Jesus Cristo, é
pertencer ao novo Povo de Deus. Por esse
motivo torna-se essencial para essa unidade a ideia de Cristo como cabeça dessa
Igreja (Cf. 1Cor 12), pois é Nele que se realizam a Lei e os profetas (Cf.
Mateus 17). Em Cristo todos se tornam um
novo povo, não mais regido por uma lei legalista, mas por uma lei que se
estabelece a partir do amor. A partir de Jesus, se firma uma nova percepção da
dimensão histórica do Povo, a princípio, eleito, e do conceito
histórico-salvífico de Povo de Deus.
Como esse conceito de comunidade não se limita mais a uma etnia,
torna-se, assim, necessária uma adesão, um preceito para ingressar nesse novo
estilo de vida, uma outra religação, pois essa nova “linhagem” que surge já não
mais provém da carne e do sangue, mas é fruto da fé e do Espírito (Cf. Rm 4, 13-17).
Assim, através do Batismo, os novos cristãos são chamados a participar desse
Reino a ser instaurado (iniciado por Cristo) que não desinstitui a herança de
Abraão, pelo contrário: para entrar neste Novo Israel se faz necessário ter a
mesma fé de Abraão (Cf. Rm 4, 13-24).
A partir do batismo, os novos fiéis [1]“formam o povo de Deus uno que
existe como Corpo de Cristo e como Templo do Espírito Santo e serve a Deus como
instrumento para a realização de seu governo de salvação”. Assim, essa nova
identidade de povo traz Jesus como cabeça do corpo Igreja, onde o grande
diferencial é a liberdade e a dignidade oferecida a esses novos filhos de Deus,
cujo coração torna-se morada do Espírito Santo, ou seja, o verdadeiro templo.
Por Daniel
G. Ribeiro
_____________________________________________________________
[1] SCHMAUS,
Michael. A Igreja, um mistério de fé. Petrópolis: Vozes, 1978, (Coleção: A fé
da Igreja – Vol. IV).
Nenhum comentário:
Postar um comentário