A Trindade no Evangelho de João


A Unidade:

"Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em Mim, por intermédio da Sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és Tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles em Nós; para que o mundo creia que Tu Me enviaste” (Jo 17, 20 – 21).

A Alteridade:

“Em verdade, em verdade, vos digo: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que quem o enviou” (Jo 13, 16).

O Projeto de Salvação é apresentado ao homem, principalmente, por meio da Trindade (Jo 14,16-17). Jesus é o nosso grande exemplo de superação, de que podemos ir além dos nossos horizontes limitados pela carne, ou seja, pela nossa corrupção natural, cultura ou tradição religiosa ( Mt 4, 1-12 ; Lc, 22, 42 ; Hb 4, 14-15 ; 1 Pedro 4, 1).

Partiu daí, retirou-se para as regiões de Tiro e de Sidon.  E uma mulher Cananeia que tinha vindo daquelas regiões, gritava-lhe: "Compadece-te de mim, senhor Filho de David! Minha filha está terrivelmente atormentada por um espírito maligno!". Mas ele não respondeu palavra. E chegando seus discípulos, rogaram-lhe dizendo: "Despede-a por que vem gritando atrás de nós".  Mas Jesus respondendo disse: "Não fui enviado senão às ovelhas que se perderam da casa de Israel".  Contudo ela aproximou-se e prostrou-se diante dele, dizendo: "Ajuda-me, Senhor!". Ele respondeu "Não é convém tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos". Ela porém disse: "Sim, senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem das mesas de seus donos".  Então respondendo, disse-lhe Jesus: "Ó mulher, é grande tua fé! Seja feito conforme o teu desejo". E a partir desta hora sua filha estava curada. (Mateus 15, 21-28)

Jesus, inicialmente, com o pensamento voltado, ainda, somente, para a sua religião e missão “inicial” (subjetividade fechada), nega ajuda àquela mulher.  Contudo, ao ouvi-la, contempla nela uma fé e humildade pouco percebidas entre o próprio povo tido eleito. Utilizei esses versículos de Mateus para poder compor o processo humanizante de Jesus, ou seja, a saída do homem fechado em sua própria subjetividade para a formação de um novo homem, agora livre. Essa liberdade proporcionou-lhe outras experiências, assim como com a mulher tida adúltera (Jo 8, 1-20), com as crianças (Lc 18, 15-17), com a mulher samaritana (Jo 4), com o centurião romano (Mt 8, 5 – 13) entre outras.  Jesus hora alguma se coloca como Deus ou em igualdade, muito pelo contrário, quando é chamado de “bom mestre”, responde: “Somente Deus é bom” (Mc 10, 18). Contudo, Jesus mostra que ele é o verdadeiro cumprimento da Palavra, ou seja, o Cristo encarnado, ao afirmar que ele é espelho do Pai (Jo 14, 9).
Em João é doce a pertença a que Jesus nos convida a participar; é como se dissesse: Venham participar dessa Trindade, venham ser um em mim, assim como, eu sou um com meu Pai, para que todos sejamos um em Deus (Jo, 17). Jesus não apenas nos convida a isso, como também nos ensina o caminho para essa santidade afirmando: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”  (Jo 14, 12).
Percebemos que Jesus, sendo cem por cento homem, ou seja, vivendo nos limites da carne (Fl 2, 8), alcançou a humanidade em sua plenitude, revelando-nos a face de Deus (Sl 11,7; 17,15; Ap 22, 3-4). Como diz a letra da música “Sacramento da Comunhão” de Nelsinho Corrêa, Jesus é o rosto divino do homem e o rosto humano de Deus. Na qualidade de servo e enviado, mostrou-nos a vontade do Pai e a simplicidade do Seu Reino (Fl 2, 4). E foi justamente dentro da plenitude humana que ele se mostrou cem por cento divino, como declarou o poeta Fernando Pessoa: “tão humano assim, só podia ser Deus”. Assim, podemos perceber um paradoxo entre a unidade e alteridade de Jesus em relação a Deus, pois é tornando-se servo que ele se mostra divino (Mt 20, 28).

Por Daniel G. Ribeiro




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