Por
que a visão dualista é prejudicial à vida da Igreja e ao trabalho pastoral?
O dualismo é uma heresia comum até os dias de
hoje e tem servido de base filosófica para muitas religiões. Este define o ser
humano como sendo composto por duas partes, espírito e corpo. Durante nossa história, dentro da própria
Igreja, pudemos observar essa mentalidade: o corpo sendo visto como algoz do
espírito. Podemos, a partir dessa leitura, perceber que o corpo, a princípio
impuro, sendo morada do espírito, necessita estar sempre de acordo com a pureza
espiritual. Dessa forma observamos as
vestes litúrgicas, os cabelos e as barbas bem feitas, a arrumação do altar e da
igreja, a limpeza, entre outros, como uma forma de parecermos mais dignos do
nosso espírito e do próprio Espírito de Deus.
O ato sexual, por exemplo, é parte intrínseca da salvação; é onde
perpetuamos a nossa espécie. Mas pelo
ponto de vista do dualismo, o celibato é o ponto alto do nosso afastamento
corpóreo. Um exemplo oposto a este é o “Kama-Sutra” (Livro Sagrado Oriental) como um livro
sagrado. Causa estranheza para nós, cristão, a ideia de que, dentro de um livro sagrado, possa estar presente, literalmente, cenas de ato
sexual. Por outro lado, por dividirmos o corpo do espírito, conseguimos ver
a Deus dentro do celibato que, de forma ou outra, embora não negue a vida, não
é sinônimo de continuidade (Gn 1, 28). O
que quero dizer é que por entendermos que o corpo é impuro e o espírito divino
é que vimos cometendo inúmeros equívocos em nossa vida religiosa.
Dessa forma, o jejum pode ser visto, também,
como uma violência contra o corpo, por sabermos que não há divisão entre corpo
e espírito. Não será sacrificando o corpo que elevaremos nossa alma ou
diminuiremos o nosso pecado.
Entenderíamos, assim, que o verdadeiro jejum é a nossa abstinência de
ações pecaminosas que atentem contra a nossa vida e saúde, assim como a do planeta
e das pessoas com quem nos relacionamos.
A visão dualista do ser humano interfere em
toda sua experiência com Deus, desde a sua relação com o pecado até a
compreensão do processo salvífico oferecido e concretizado pela
vida e obra de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando se pensa no corpo separado do espírito, pensa-se, também, na
salvação dessa mesma maneira, o que acaba por gerar um reducionismo, como se a
mesma se desse, apenas, na amplitude espiritual e não ecológica.
Por
Daniel G. Ribeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário