Na Sagrada Escritura,
constam-se duas passagens bem significativas que abordam a questão do estar
vazio para que haja uma construção. No Antigo Testamente, livro do Gênesis,
capítulo 1, versículo 2, o autor diz que, antes de Deus começar o seu
processo de criação, a terra “era vazia e sem forma”. Já no Novo Testamento, Carta aos Felipenses,
capítulo 2, versículo 7 é dito que Jesus “esvaziou-se de si
mesmo”.
Fazendo um possível
paralelismo, a partir dessas duas leituras bíblicas, notamos que para Deus agir
no outro é necessário, antes, que esse outro não esteja cheio de si. Levando essa dinâmica para o diálogo
inter-religioso podemos, assim, acreditar que o que possibilitou Jesus de
Nazaré estar aberto a tantos diálogos, como vimos anteriormente no capítulo
2(dois), possa ter sido esse movimento de esvaziamento de si, não se fazendo
Deus, ou seja, absoluto entre os homens.
Observamos, pelo presente
argumento, a necessidade intrínseca da alteridade, da saída do absolutismo que
faz do homem um Deus, uma verdade absoluta, para aquele que pretende, a partir
das relações, principalmente, inter-religiosas, construir ou difundir um ethos
comum a todos, não um ethos que venha substituir as religiões, “mas, antes, de
um empenho pela paz entre os homens das diferentes religiões deste mundo, o que
constitui uma necessidade urgente” (KÜNG, 2004. p. 17). Podemos, assim,
suscitar que o possível “ethos universal” consista na prática do amor autêntico
entre as criaturas, o que impulsiona o exercício da solidariedade e da justiça,
uns com os outros, a partir do respeito, da escuta e do aprendizado da
alteridade.
Por Daniel G. Ribeiro
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KÜNG, Hans.
Religiões do mundo, em busca dos pontos comuns. São Paulo, Editora Versus,
2004.
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