A importância da justiça social para adentrarmos no Reino de Deus (Mt.5-7)


Após estudarmos esses capítulos, observamos que a justiça social não se trata, a princípio, de um “passaporte” para entrar no Reino de Deus; na verdade, a justiça social é o próprio Reino de Deus instituído, projeto de vida que nos apresenta um modelo justo e igualitário de sociedade.

Há uma intenção, compreensível, nas cartas paulinas, em fazer de Jesus a isenção das leis mosaicas (Gl 4, 1 – ss). Contudo, Jesus não faz alguma observância contraproducente aos mandamentos ou às leis, pelo contrário, diz que quem não os seguir será o menor no Reino dos Céus; a crítica apontada em todo texto é a respeito das interpretações que, no decorrer dos tempos, foram sendo dadas, aos próprios mandamentos, e que, por consequência, geraram cumprimentos de leis que não preservavam a vida e a liberdade, mas sim, abertura para os delitos políticos, econômicos e sociais das classes opressoras e ou dominantes.

Ratificando a afirmação anterior, citaremos a passagem que sugere essa atitude de Jesus; “Não pensem que vim abolir a Lei e os Profetas” (Mt 5, 17). Jesus não põe fim à prática da lei que prevê, por exemplo, dar esmolas aos pobres; contudo, Ele vai à raiz do problema e nos mostra que se houvesse, realmente, justiça social, não haveria necessidade de existirem leis para a prática das esmolas. Esta é a linha de pensamento que vai sendo desenvolvida no decorrer dos capítulos 5, 6 e 7 de Mateus.

Este evangelho nos sugere que os valores éticos não mudam jamais, mas que a moral deve ir se adequando a cada geração. Do baú saem coisas velhas e novas, ou poderíamos dizer, antigas e recentes. Os valores éticos são antigos, mas se mantêm sempre novos e por esse motivo não precisam ser mudados; porém, a moral envelhece a cada geração, necessitando, sempre, ser revista. Jesus fez novas todas as coisas existentes.

Temos uma tendência semântica de crer que a palavra “novo” está ligada à idéia de “algo inédito”; contudo sua observância pode, também, estar ligada a algo renovado; renascido; refeito; moldado etc. Jesus não fez mandamentos ou leis novas, mas sim as tornou novas, não alterando os valores contidos, mas a moral aplicada: em verdade Jesus tornou as leis mais claras.

O Evangelho, em suas entrelinhas, nos mostra porque Jesus é o caminho para o Pai; Palavra de liberdade lançada aos povos.


Javé disse a Moisés: diz ao teu irmão Aarão que nunca entre no santuário para além do véu, diante da placa de ouro que está sobre a arca. Ele poderá morrer, porque Eu apareço numa nuvem sobre a placa da arca. (...) Então Jesus lançou um forte grito e expirou. Nesse momento, o véu do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes. (...) Irmãos, com toda a segurança podemos entrar no santuário, por meio do sangue de Jesus. (...) Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Sua Verdade rompeu o véu; o Caminho abriu-se para nós; e enxergamos a Vida que há em Deus!

(RIBEIRO, 2010b)


A citação acima faz alusão a quatro passagens bíblicas: a primeira é em Levítico (Lv. 16, 2); a segunda em Marcos (Mc 15, 37-38); a terceira na carta aos Hebreus (Hb 10,19); e a quarta em João (Jo 14,6). Este é o princípio instauração da justiça social: dar direito a todos de terem acesso à verdade. Jesus diz que é a Verdade; para termos a idéia real do que Ele quer dizer quando nos faz essa afirmação, precisamos saber qual o conceito grego desta palavra. “Verdade como aletheia, significa que o véu que encobre a realidade foi retirado e que nós contemplamos a realidade abertamente, assim como ela é” (GRÜM, 2006, p. 96).

A justiça social está diretamente ligada à aplicação das leis e mandamentos; por isso, observamos a preocupação de Jesus em elucidar a verdade contida na “Palavra de Deus”. Enquanto a interpretação antiga provocava conformismo religioso, alienação política e desigualdade social, as bem-aventuranças libertavam os homens para “que eles fossem verdadeiramente livres”, fazendo-os rever os conceitos distorcidos de felicidade e “eleição”. Por esta nova apreciação de felicidade é que se instaurará o Reino de Deus, onde os seus verdadeiros participantes são os humildes, mansos, aflitos, os que buscam a verdade, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores etc.

“Ai dos que transformam o direito em veneno e atiram a justiça por terra” (Am 5, 7); por outro lado, felizes os que praticarem a justiça, amarem a misericórdia e caminharem humildemente (Mq 6, 8), pois nasceram de novo, serão consolados, saciados, conhecidos como filhos de Deus, herdarão a terra, a Sua misericórdia, e ganharão o Reino dos Céus como recompensa.

Concluímos, por enquanto, esta reflexão, assim como a introduzimos, de uma forma mais conotativa; compreendendo o Reino dos Céus como uma proposta social para esta vida; produto de uma sociedade justa e igualitária firmada pelo Amor encarnado; Jesus de Nazaré.


Por Daniel Gomes Ribeiro


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Um comentário:

  1. Concordo com a sua linha de reflexão, porque o Reino anunciado por Jesus foi sendo por ele plenamente realizado. Ele o foi construindo com suas atitudes profundamente humanas.

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