Evitar as Contendas

“Disse, pois, Abraão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti, e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos irmãos” (Gn 13, 8).

Contenda, em sua etimologia quer dizer litígio, que vem do latim litigium, que significa, entre outras coisas, disputar.
Podemos, também, estender a raiz da palavra à prática dos povos antigos, que se abrigavam em tendas. A tenda é uma “casa sem paredes”, onde todos se vêem, se escutam. Por isso, a palavra “entender” tem um significado muito maior do que imaginamos. Entender alguém é estar dentro da “tenda” daquela pessoa, ou seja, conhecê-la de fato; e para isso acontecer é preciso que ela permita a nossa entrada. Eis o problema, já que essa entrada implica muitas outras coisas, como confiança, acessibilidade, afetividade etc.
A palavra “contenda”, nessa história, tem um sentido bem etimológico mesmo. Pois não houve disputa entre os dois. Cada um seguiu o caminho que lhe estava à altura da idade e/ou sabedoria.
Para não haver contenda se faz necessário “ENTENDER”; entendimento que não se encontra fora da renúncia à soberba, à vaidade e à certeza. Por isso, para “entender” é preciso, também, esvaziar-se...
Jesus Cristo viveu e entendeu nossas aflições, pois tendo a condição divina esvaziou-se de si mesmo e se fez servo (Fl 2,7). Este “cântico de humildade” do Mestre de Nazaré deveria ser uma oração diária em nossas vidas; nossa busca pela verdadeira prática cristã; que nos torna livres e que nos faz libertar; que faz entender, respeitar e amar o próximo. Quem guarda seu coração (Pv 4, 23), evita as contendas (Gn 13, 8).

Por Daniel G. Ribeiro

Um comentário:

  1. É uma riqueza ímpar conhecer as palavras no seu primeiro sentido.
    Entender, no sentido etimológico da palavra, é entrar na intimidade do outro e, num sentido mais profundo, é entrar no mistério do outro.
    O entendimento torna viável a comunhão.

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