As etapas onde Deus aparece claramente atuando...

           Onde há a liberdade em consonância com a justiça e a igualdade está Deus, claramente atuando; ação que se identifica, não por fenômenos naturais, a princípio, como era a crença dos povos antigos, mas através dos sentimentos éticos instaurados (intuídos) ao homem.  Podemos notar a presença de Deus no coração de Moisés, no momento em que nele acende o fogo da justiça (Ex 2, 11).  Contudo, sua atitude em revolta à injustiça, matando o egípcio, o torna, naquela ação, pior do que o agressor, pois o preço foi a pior pena; Deus não estava mais atuando.
            Moisés, tendo a condição divina, e Aarão, sendo o seu profeta (Ex 7,1), vão ao Faraó interceder quanto à libertação do seu povo. Deus está claramente presente. A astúcia, a coragem e a determinação de Moisés parecem mesmo vir de Javé.  Contudo, não sendo suficiente a interlocução trabalhada junto ao Faraó, a “justiça de Deus” começa a pesar sobre o Egito. Inicia-se com efeitos sobrenaturais, depois polui os rios, matando os peixes e contaminando todos os lagos e reservatórios. Após isso veio a invasão dos sapos, mosquitos, moscas na cidade. 
Com o coração do Faraó ainda endurecido, Deus torna sua mão mais pesada, além de poluir os rios, causar caos à cidade, lança pragas que matam todos os animais e geram doenças também à população; faz chover pedras que destroem toda a fauna e a flora da região. O Faraó parecia não se render a tantas catástrofes, até os poucos vegetais que sobraram foram destruídos pela nuvem de gafanhotos que invadiu a cidade. 
Tendo visto, que tais destruições não haviam amolecido o coração do Faraó, a mão de Deus pesa contra Seu maior princípio: nunca atentar contra a vida de um inocente (Gn 18, 25 - 33); e são mortos todos os primogênitos do Egito.  Após esta narrativa é crível a não atuação de Deus nesta etapa da libertação.
Dentre outras, podemos também observar a clara atuação de Deus ao incitar Moisés para a criação de leis que regulem a vida do Seu povo.  Regras que assegurem uma vida mais digna, mais estreita com o próprio Javé; uma aliança.  Então, Moisés vai para perto de Deus, em cima do Monte Sinai, por onde Deus desceria, e lá são confeccionadas as tábuas da Lei. 
Do seu encontro com Deus surgem as Leis, porém, as mesmas são dicotômicas ao próprio Libertador; a exemplo da escravidão, fundam-se leis que a regulamentam ao apresentar o direito dos escravos. Um Deus que clama por liberdade não podia pensar de forma escravagista.  A partir desses fatos começamos a perceber onde está Deus e onde está o desejo humano.  As Leis intuídas por Deus, em sua maioria, correspondem aos anseios humanos de posse.  O Deus da Vida que diz: “não matarás” é confrontado com sua a própria lei que assegura: por este ou por aquele pecado serás réu de morte. 
Nesta etapa, é clara a atuação de Deus na condução do homem por uma vida regrada e não transgressora à própria liberdade.  Porém, as leis, que se constituem a partir dessas, abrem ressalvas que permitem o atentado contra a própria liberdade e vida, assegurando, na verdade, em sua maioria, regras que defendam o patrimônio físico e classista.
A conclusão que se chega, a partir dessa reflexão, é a de que Deus se fez presente no Êxodo, não como aprendemos em nossa catequese, ou seja, nos trovões, aberturas de mares ou nas pragas, mas sim, na proposta de uma sociedade livre e, acima de tudo, comprometida com a Vida; propósito maior da Aliança de Deus (Dt 30, 19), que só se constitui, plenamente, através de uma sociedade fraternal, onde a fraternidade não está resumida a uma raça, cultura, religião ou sangue; mas à nossa igualdade e diversidade enquanto criaturas.  Contudo, essa compreensão, ou seja, essa  visão de Deus só será vista, claramente atuando, em Cristo.


Por Daniel G. Ribeiro

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