A fé nos leva a refletir: Deus age fora de nós ou dentro? Nossa oração, nosso clamor e fé fazem “Deus funcionar” ou nos faz buscar, intuir e agir?
Tomando como partida os questionamentos acima, a fim de aplicarmos a mensagem deste livro para os dias de hoje, resumiremos o êxodo em duas etapas: a saída do Egito e a aliança com Deus. Iniciaremos esta etapa olhando os “milagres” fora dos olhos da fé (fundamentalista) ou da ciência, porque, utilizando como exemplo a abertura do Mar Vermelho, pela fé creríamos que, através da manipulação da “ordem natural das coisas”, Deus teria aberto os mares para Moisés; de outra forma, seguindo a visão cética da ciência, terminaríamos por crer, como explicação, que a maré baixa e a ação dos tufões (comuns naquela área) foram os responsáveis pelo deslocamento das águas formando, assim, as paredes de até 1,50m que possibilitaram a passagem pelo mar. Por esse motivo, abordaremos, aqui, os milagres como uma “metáfora divina”, onde as providências de Deus se estabeleceram (e se estabelecem) através da sua relação com o homem.
Deus é amor e liberdade, portanto, quando estreitamos nossa relação com Ele, os sentimentos que mais se afloram, são esses. No êxodo, essa relação faz o povo clamar por liberdade. A metáfora do Mar Vermelho, a que damos como exemplo nesta reflexão, nos apresenta uma resposta maravilhosa para os dias de hoje, onde o imediatismo, a falta de paciência, de planejamento entre outros são fatores determinantes para o colapso social atual.
Surge, então, a indagação: onde está a Providência Divina?
Deus inspirou Moisés e Aarão a iniciar o momento de preparação para liberdade. (Ex 12,1). Preparou o cronograma (Ex 12,2) e, em seguida, delineou todas as estratégias (Ex 12,3-20). O povo precisou seguir o planejamento na íntegra, e não foi fácil. Tomado pelo espírito da liberdade, já não se permitia escravizar; as pressões aumentavam; o Egito passava por momentos difíceis (Ex 10 - 11); esta era a hora esperada. A transformação já havia ocorrido, embora ainda estivesse na terra da escravidão, “o povo já pensava a Liberdade”.
Enfim, é chegada à hora, o Faraó “deixa-os sair”; inicia-se, assim, a jornada. A astúcia de Moisés, conhecendo a fragilidade do seu povo, o fez conduzi-lo ao Mar Vermelho para não terem que passar pelas terras dos Filisteus (Ex 13,17); Moisés leva consigo um símbolo forte, uma promessa, que dava coragem e fé ao seu povo – os ossos de José (Ex 13, 19). A providência divina não cessava (Ex 13, 20); o povo de Deus chega ao Mar Vermelho e o mesmo se abre para eles passarem (Ex 14, 22).
A partir desta narrativa podemos perceber que Deus atua na transformação do homem, no desejo por uma vida melhor, mais digna, e que esta providência necessita sempre de alguém que atenda a seu chamado e se entregue à ação. A “metáfora divina" do Mar Vermelho é esta: Quando criamos nossos objetivos, nos planejamos e com astúcia, prudência e ética seguimos nossas vidas, as portas se abrem para nós.
A segunda etapa é marcada pela aliança; a criação das leis. O livro do Êxodo é a epítome de um paradoxo social que migra da escravidão, passa pela libertação e chega construção de uma comunidade.
Podemos, também, perceber, a partir do êxodo que, na verdade, o homem não pensa na liberdade de forma holística, mas sim egoísta; pois não permite escravizar-se, mas escraviza; não permite que seus semelhantes confeccionem ídolos de barro ou aço, mas constrói a sua arca com querubins etc, movido pela certeza de que o Deus verdadeiro e da vida está do seu lado; que lhe proporciona liberdade a preço de vidas, matando inimigos, inocentes e, até mesmo, crianças. Algumas perguntas surgem. O mesmo Deus da vida, que é único e não faz acepção de pessoas, escolhe um povo? E ao escolher (eleger) um povo, torna todos os povos ao seu redor oposição?
A mensagem que o livro nos passa é bem complexa, sendo o cerne da discussão a transformação do homem que se dá pela relação com um Deus libertador. Paralelo a isso, como vimos no parágrafo anterior, o Êxodo nos remete, também, a uma leitura crítica sobre as práticas utilizadas pelo povo de Deus para alcançar seus objetivos; prática, hoje, abominada pelo sonho de uma sociedade livre, igualitária e justa, por isso, plural; onde a manifestação do divino se dá de forma diversa e a liberdade é sinônimo da vida, logo, não podendo ser alcançada a preço de sangue; até porque, em sua necessidade, este, já foi derramado:Jesus Cristo.
Por Daniel G. Ribeiro
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