Ensino Religioso - Tema: Pra gente ver por entre prédios e nós


Ensino Religioso
Tema: Pra gente ver por entre prédios e nós
Professor: Daniel G. Ribeiro

1ª Parte - Contextualização

A ALEGORIA DA CAVERNA

Escrita por Platão, filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, a Alegoria da Caverna ou Mito da Caverna encontra-se na obra intitulada A República (Livro VII). A Alegoria, um dos textos mais lidos no mundo filosófico, narra o diálogo de Sócrates, mentor de Platão, com Glauco e Adimato. Nesse diálogo Platão aponta como podemos nos libertar das condições de escuridão (falta de conhecimento, de esperança, entre outros) que nos aprisiona dentro das cavernas da nossa ignorância.
Para podermos iniciar nossa reflexão, precisamos montar um cenário favorável a essa compreensão. Imaginem um muro de pedras, alto, capaz  de separar o mundo externo de uma caverna. Contudo, no alto do muro, existe uma brecha por onde passa um pequeno raio de luz. Na caverna, habitam os homens e mulheres que, ali, nasceram e se criaram; todos, sempre, de “costas” para o muro, “acorrentados”, “paralisados” e “orientados” a nunca olharem para a entrada/saída da caverna.
Do lado de fora, alguns homens mantêm uma fogueira acesa, conversam... Esses sons unidos às sombras projetadas ao fundo da caverna confundem os “prisioneiros”, ou seja, os habitantes da caverna, que, ilusoriamente, passam a pensar que os sons partem daquelas sombras, isto é, que as sombras sejam a realidade.

2ª Parte - Problematização

a) Nesse primeiro momento, com o cenário da caverna montado e contextualizado, vamos imaginar que um dos “prisioneiros” rompa com toda aquela “orientação” e olhe para a entrada da caverna, livre-se das “correntes”, vença o medo, siga em direção ao “muro” e o escale.
Questão: O que vocês acreditam que ele irá descobrir?

(Nesse momento deixaremos os alunos refletirem)

Reflexão colaborando com a descoberta dos alunos – Tudo aquilo que eles viam e ouviam dentro da caverna não era a “realidade”, mas apenas “projeções", sombras e ecos do que realmente era a verdade, ou seja, de tudo o que acontecia fora da caverna. O que o ex-prisioneiro agora escuta e vê não são mais ecos e sombras, mas cores (luz), formas e sons, segundo a verdadeira natureza deles.

b) Partiremos, então, para a segunda situação. Agora, vamos imaginar que esse ex-prisioneiro decida voltar à caverna a fim de “revelar” àqueles que lá se estão, ainda, na mesma situação, ou seja, todos sempre de “costas” para o muro, “acorrentados”, “paralisados”, “orientados” a nunca olharem para a entrada/saída da caverna, que a realidade não se encontra naquelas sombras e ecos, que ele estão enganados, que tudo aquilo em que eles acreditam não é a verdade.
Questão: Qual será a reação daqueles prisioneiros?

(Nesse momento deixaremos os alunos refletirem)

Reflexão colaborando com a descoberta dos alunos – O ex-prisioneiro pode ser ignorado, pode ser considerado um subversivo, mentiroso, louco, traidor e, inclusive, correr sérios riscos de acabar sendo morto. 

c) Nesta terceira situação, faz-se necessário construirmos a ideia de que, influenciado por seu mentor Sócrates, Platão busca retratar, já naquela época, o perigo gerado pela alienação politico-cultural que nos condiciona a estar, sempre de “costas” para “o muro”, “acorrentados”, “paralisados” e “orientados” a nunca olhar para a entrada/saída da caverna, ou seja, a nos mantermos presos à desesperança, às falsas crenças, aos preconceitos, ao medo, etc.
Questão:  Papa Francisco, no seu “Sermão dos Andes” (Discurso feito em 2015, na Bolívia), afirma que “a concentração da mídia nas mãos de poucos é instrumento de colonialismo ideológico! Pois o monopólio dos meios de comunicação pretende impor pautas alienantes de consumo e certa uniformidade cultural. O que isso tem a ver com a Alegoria escrita por Platão?

 (Nesse momento deixaremos os alunos refletirem sobre o quadro social gerado pela alienação que a mídia atual tem provocado.)

Reflexão a partir da música “O que sobrou do Céu” do grupo “O Rappa”

O, la lá, o la lá, ê ah (4x)

Faltou luz mas era dia

Dia: Sol (natural); sabedoria (Deus)
Luz produzida pelo homem: Eletricidade (artificial); conhecimento (homem)

O sol invadiu a sala

Sol invadindo: Homem sendo iluminado por Deus
Sala: “Caverna”, coração, alma.

Fez da TV um espelho

TV: Mídia, meio de comunicação, luz e som artificial.
Obs.: Contextualizar que antigamente as TVs eram com tubo de imagem, ou seja, quando estavam desligadas eram como espelhos (dava para a pessoa se ver).

Refletindo o que a gente esquecia

A gente Esquecia: Se a TV é apontada como “instrumento de colonialismo ideológico! Pois o monopólio dos meios de comunicação pretende impor pautas alienantes de consumo e certa uniformidade cultural”, ainda sei quem sou? Ou já sou fruto de tudo aquilo que vem sendo construído em mim? Quem sou eu? Sou livre? Se venho de Deus, o quanto já me esqueci do “céu”, da minha origem...?

Faltou luz mas era dia... di-ia
Faltou luz mas era dia, dia, dia

Faltou luz, mas era dia!: Em minha “caverna”, acomodado com a falsa luz, não recebo mais a luz do sol... Será que já nos afastamos tanto da sabedoria de Deus que precisamos que falte eletricidade/tecnologia (luz do homem) para que possamos retomar nossas verdadeiras relações?

O som das crianças brincando nas ruas como se fosse um quintal

Som das Crianças: Som verdadeiro; “natural”; “real”
Nas ruas: No sentido do “mundo externo”. Livre!
Quintal: Local seguro, embora livre! Remonta às décadas passadas, onde o quintal era um lugar de descobertas, confraternização, invenções (criatividade). Diferente do uso contínuo de produtos eletrônicos, paralisantes, individualistas e prontos dos dias de hoje.

A cerveja gelada na esquina como se espantasse o mal

Esquina: A vida corrida, a escravidão dos meios de comunicação que afasta as pessoas, é bloqueada no momento em que elas vão, agora, pela falta da falsa luz (energia/tecnologia) interagir, buscar o outro real e não mais o virtual. Cerveja gelada na esquina significa: estar junto de verdade, amizade, bate-papo; relações.
Mal: Diabo (do latim) DIABOLUS – DI (divisão) Aquilo que divide. Símbolo (do latim SIMBOLUM) – SIM (Singular, Simples) Aquilo que une. Logo, o símbolo do mal é um símbolo diabólico, ou seja, tudo que nos une àquilo que nos divide. Um grande paradoxo! Nessa música, a falta de saúde (do latim SALUTIS - Salvação) na sociedade é fruto da separação do homem com Deus. E a TV (tecnologia – luz e som artificial) acaba se tornando um símbolo do mal, em outras palavras, a representação de tudo aquilo que vem nos dividindo.

O chá pra curar esta azia, um bom chá pra curar esta azia

Chá: Remédio “natural”! Não é sintético!
Azia: Enfermidade das vias digestivas muito associada à má alimentação, estresse, acidez etc. Nesse caso a azia simboliza a falta de saúde. Ou seja, não estamos digerindo bem tudo isso que anda acontecendo em nossa sociedade. O mal apontado está adoecendo as pessoas.

Todas as ciências de baixa tecnologia

Ciências de baixa tecnologia: A História nos ensina a dinâmica “descartável” do, ainda, novo (da novidade)! Ou seja, a astúcia industrial e tecnológica que transforma, cada dia mais, os setores de alta tecnologia de hoje em média ou baixa tecnologia amanhã. Em outras palavras, o escravagismo imposto por essa nova onda de inovação, onde as tecnologias que vivemos no momento estão sempre sendo substituídas por novas tecnologias; uma arma para as constantes trocas de produto, o que faz crescer ou acelerar o consumo dentre outras coisas... O que o autor pode estar dizendo é: não entre nesse jogo capitalista, opte pelo que já é considerado “ultrapassado”... Ou por algo que nunca será! Um bom chá pra curar essa azia são os valores, a ética, as relações humanas reais e verdadeiras, naturais.

Todas as cores escondidas nas nuvens da rotina

Todas as cores: Quando chove muito e depois o sol começa a iluminar a terra, o que vemos são as CORES do arco-íris. Lembrando que o arco-íris na Bíblia é o símbolo do Bem! É o sinal que Deus deixou da sua primeira aliança com o ser humano. Uma aliança de perdão, saúde e vida! Contudo, o autor não fala da nuvem natural (real), ele faz menção a uma nuvem alegórica, criada pelo homem... Uma nuvem que “esconde” a aliança com Deus, ao invés de produzi-la. O nosso dia a dia tem nos afastado de Deus!

Pra gente ver por entre prédios e nós...

Pra gente ver: Ver é um termo muito utilizado, também, para perceber, entender, sentir, descobrir. Ou seja, não é, simplesmente, olhar...
Prédios: Construções humanas!
Nós: Eu e os outros.
Precisamos começar a nos “ver” de novo... Pois, hoje, estamos divididos, segregados por todos os “muros”, as divisas, as grades, as construções... Em nossas “cavernas”, isolados...  E essas construções, muros etc estão cada dia mais “altos”.

Pra gente ver o que sobrou do céu...

Céu: Bem-aventurado os puros de coração porque verão a Deus! (Mt 5,8)
Se estamos cegos, por todas essas “construções” humanas, o que vemos? O que sobrou do céu?
Lembrando o que a expressão bem-aventurados significa: Felizes!
O que sobrou da nossa verdadeira felicidade?


Senhor, tira a venda dos meus olhos 
para que eu possa ver as tuas maravilhas!
( Cf. Sl 118, 18)


Por Daniel G. Ribeiro

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