O diálogo
inter-religioso instaura uma comunicação e um relacionamento entre fiéis de
tradições religiosas diferentes, envolvendo partilha de vida, experiência e conhecimento.
Essa comunicação propicia um clima de abertura, empatia, simpatia e
acolhimento, removendo preconceitos e suscitando compreensão, enriquecimento e
comprometimento mútuos e de partilha da experiência religiosa. (DIAS, 2008. p.
126)
Hoje muito se fala
a respeito do diálogo inter-religioso, contudo, observamos um empenho pouco
relevante das religiões em proporcionar, entre os seus adeptos, essa prática positiva
e construtiva tal como deveria ser. O que percebemos é o despertar de um
diálogo midiático a partir de passeatas, manifestos entre outros, onde alguns
líderes religiosos movidos, muitas das vezes, por seus posicionamentos
religiosos pessoais, unem-se com o intuito de reivindicar a paz entre as
religiões, utilizando, como ponto de partida, um tema bem comentado
ultimamente, o da intolerância religiosa.
De acordo com o filósofo Hans-Georg Gadamer (GADAMER, 2002, p. 243), um
dos grandes pensadores do século XX, o diálogo “é um atributo natural do homem” e é a partir dele que o homem impetra
a sua humanidade. No diálogo acontece um exercício singular de “ir
além”, de ultrapassar barreiras, como podemos notar, também, na explanação
etimológica da palavra “diálogo” defendida por Mota Zwinglio Dias e Faustino Teixeira
na obra Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, a arte do
possível
(DIAS, 2008).
Com base na etimologia
grega do vocábulo “diálogo”, é importante ressaltar a presença de dois termos:
“dia” e “logos”. A expressão “logos”
cobre uma vasta gama de significados, mas indica em particular o dinamismo
racional do ser humano, a capacidade humana de pensamento e raciocínio. O termo
“dia”, por sua vez, expressa uma
dupla ideia: alude ao que separa e divide, mas igualmente à ultrapassagem de um
limite. Faz parte da natureza do diálogo a busca de uma unidade que preserve e
salvaguarde a diferença e a liberdade. O diálogo autêntico traduz um encontro
de interlocutores pontuado pela dinâmica da alteridade, do intercâmbio e da
autoridade (ibidem, p. 124).
Por parte da Igreja
Católica podemos encontrar um excelente apontamento sobre a necessidade de
dialogar “com pessoas e comunidades de outras confissões religiosas, para um
mútuo conhecimento e um recíproco enriquecimento” (SECRETARIADO PARA OS NÃO
CRISTÃOS, nº 3). O documento Secretariado
para os Não Cristãos aborda muito bem a necessidade e os benefícios que
traz esse tipo de diálogo. Entretanto, em
relação às outras igrejas cristãs, principalmente as fundamentalistas, o
assunto diálogo inter-religioso não tem, ainda, grande relevância.
Compreendemos que essa postura tem como uma das causas, por parte de alguns
sujeitos e instituições religiosas, o medo de “respingar-se” por outra religião,
fato compreendido, visto que a prática do diálogo acaba por expor demais os
interlocutores envolvidos.
O que deve ser
entendido, primeiramente, é que o diálogo ganha riqueza e sustentação, justamente,
quando os sujeitos envolvidos apresentam um forte engajamento em sua fé
específica, não devendo, para melhor dialogar, “romper com a religião de sua
própria cultura e herança” (DIAS, 2008. p. 145). Por esse motivo faz-se
necessário, dentro das instituições religiosas, um maior esclarecimento quanto
aos seus mais profundos desígnios e benefícios, mostrando ao fiel que o diálogo
não pretende incitar uma dupla pertença; ao contrário, preserva as identidades,
ainda que modifique a leitura de mundo dos seus participantes à “medida em que ele provoca a ruptura da
monologização” (TEIXEIRA,
2010, p. 158).
Contudo, é compreensível o receio, acima mencionado, em relação a
essa expressão viva e rica em diversidade que propõe o diálogo inter-religioso,
por se tratar de um assunto, relativamente, recente. No entanto, com o advento
da modernidade onde os campos da ciência e da comunicação apresentam-se mais
acessíveis a todo sujeito, a necessidade de se relacionar com outras religiões
tornou-se imprescindível quer seja no ambiente de trabalho, entre amigos e até
mesmo no seio familiar. Ainda que seja recente o tema “não significa a ausência
de traços germinais antecedentes, presentes em importantes teóricos e místicos
de tempos anteriores, que marcaram sua reflexão por importante sensibilidade
dialogal” (DIAS, 2008. P. 129).
Por Daniel G. Ribeiro
(Fragmento do Projeto: UMBANDA E CRISTIANISMO EM
DIÁLOGO: Uma analogia semiótica a partir do resgate social
transignificado à imagem dos excluídos e dos marginalizados)
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