O ato do culto e a justiça Social




             Isaías descreve a insatisfação de Deus diante das festas e ofertórios, ressaltando que Javé se entristece pelo abandono do homem à sua verdadeira aliança, que não está fundamentada, a princípio, nos cultos de adoração, mas na relação justa e igualitária da saciedade, do Seu povo. 
O texto, no capítulo 1, aponta a barganha do homem com Deus, onde o preço do pecado é pago com o sangue das ofertas.  Por esse motivo Deus se entristece com o homem; não quer mais os holocaustos, pois do que adianta a banha de um animal se a proposta Dele, que é social, não vem sendo cumprida. Deus só vê injustiça.
Isaías afirma que Javé quer a justiça social como oferta. Ainda no capítulo 1, ele nos descreve que iremos colher tudo que estamos plantando; e que Deus quer que nós entendamos que a maior riqueza, aos Seus olhos, é a obediência à sua aliança que se constitui na justiça social, e que esta é a grande oferta.  Neste momento observamos que Isaías relembra e sonha com a volta ao tempo dos juizes; o período tribal, quando o povo chegou mais próximo do projeto de Deus.  Em seguida, conclui afirmando que todos nós seremos julgados segundo a nossas obras.
A partir das afirmações acima, podemos concluir que Deus não abomina o culto e as suas práticas, mas sim, o que o povo entende como oferta.  “Portanto, se estiveres diante do altar do templo a oferecer um sacrifício a Deus e te lembrares de que outra pessoa tem qualquer razão de queixa contra ti, deixa o teu sacrifício sobre o altar, vai, pede perdão e faz as pazes com ela; depois volta e oferece o teu sacrifício a Deus” (Mt 5, 23 - 24).
Isaías afirma que a paz que Deus nos ensina não se consiste na “não guerra” ou na que é conquistada através da hegemonia, mas na paz que é fruto da Justiça Social; paz que só alcançamos com um coração íntegro, integrado e integrador.  Provérbios, capítulo 4, versículo 23 nos diz: “Guarda teu coração acima de tudo, porque dele provém a vida.” 
Isaías inicia o capítulo 6 dizendo que só viu a glória de Deus depois da morte de Ozias, um rei que era bom aos olhos de Deus, mas que pecou no final da vida, não guardando seu coração; entregando-se à soberba e à supremacia.
Mas o que isso tem a ver com o culto a Javé?  Se a palavra de Deus nos assevera que a paz é fruto da justiça, logo, o culto a Deus deveria ser um culto de paz, pela paz e para a paz que, segundo Isaías, seria a conquista verdadeira da tranquilidade e segurança eterna (Is 32,18).  A justiça é o próprio caminho da paz que não se dá fora do amor; logo, a relação que encontramos entre o culto a Javé e a Justiça Social é dicotômica à aliança; por esse motivo, diz Javé:

“De que me serve a multidão dos vossos sacrifícios? (...) Parai de trazer oferendas sem sentido! (...) não suporto maldade com festa religiosa. (...) Ainda que multipliqueis as orações, de forma alguma atenderei. (...) Lavai-vos, limpai-vos, tirai da minha vista as injustiças que praticais (...) fazei justiça para o órfão, defendei a causa da viúva. Depois, vinde, podemos discutir (...)”. (Is 1, 11 - 18)

A palavra culto (cultuar - cultura), em sua etimologia, procede do termo colere, que significa: cuidar, tratar; honrar, venerar etc. Segundo o Dicionário Aurélio, o culto é uma adoração ou homenagem à divindade em qualquer de suas formas. Na Bíblia Sagrada, encontramos na carta de Tiago a única definição conceitual-descritiva do que é a verdadeira religião. A religião pura e imaculada aos olhos de Deus Pai é cuidar dos órfãos, das viúvas e manter o nosso coração puro (Cf. Tg 1, 27).  Desta forma, compreendemos que o culto a Deus é a prática da sua justiça; que as festas são os momentos em que, de forma religiosa, apresentamos a Ele, esse projeto social exercido, que é a própria aliança.  Então, o que ofertar a Deus, se não, o amor pela justiça?

Por Daniel G. Ribeiro

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